Limiar do Ensino Comunicativo de Línguas no Brasil
O Seminário Nacional para o Ensino de Línguas, na UFSC- Florianópolis em 1978, pode ser considerado um marco para o início do movimento comunicativo no Brasil, por ser o primeiro evento acadêmico nacional dedicado ao comunicativismo e propondo a abordagem comunicativa como modo de se conceber o ensino e a aprendizagem de uma nova língua. A abordagem comunicativa parte do pressuposto de que a aprendizagem de uma língua estrangeira se dá num contexto político-cultural de interação propositada, sendo desejável uma postura crítica do professor. Quanto aos aprendizes, a abordagem comunicativa considera as variáveis afetivas, físicas e sócio-cognitivas intrínsecas à pessoa, e as variáveis extrínsecas, como material didático, tempo para estudo etc que se combinam entre si gerando resultados de aquisição variados. Como a abordagem comunicativa encara como papel fundamental da língua estrangeira preparar o contato com falantes e culturas estrangeiras, ela propõe o foco de atenção nas funções comunicativas dentro da fala ou escrita, ou seja, não simplesmente aprender a regra, mas aprender o uso da língua. Para isso, as atividades devem ser de real interesse do aluno, capacitando-o a usar a língua estrangeira para realizar ações de verdade na interação com outros falantes dessa língua. Há uma valorização, portanto, do sentido, do significado e da interação entre sujeitos na língua estrangeira. Embora não se descarte a possibilidade de momentos de explicitação de regras e de prática gramaticais em sala de aula, as formas da língua descritas nas gramáticas não são tidas como modelo suficiente para o aprendizado de outra língua. Esta ênfase menor na gramática é muitas vezes compreendida como não ensinar gramática; uma compreensão equivocada do ensino comunicativo que gera um abismo entre uma vanguarda teórica arrojada e uma tradição gramatical profundamente arraigada em professores, alunos e material didático. O ensino comunicativo requer professores bem preparados, tanto com domínio teórico quanto de uso real da língua-alvo, mas os professores brasileiros são normalmente sobrecarregados e não conseguem se engajar num aperfeiçoamento profissional. Com uma formação muitas vezes precária e sem material didático verdadeiramente comunicativista, resta ao professor seguir todos os passos programados pelo livro didático (via de regra gramaticalista) à disposição. Assim, apesar de haver uma demanda por uma competência lingüístico-comunicativa, o ensino comunicativo ainda não se estabeleceu como paradigma disseminado nas práticas das escolas e universidades do Brasil.