Ano 8 - Nº 8 - 1/2014

O Instituto Goethe e a Língua Alemã no Brasil

Resumo

Este trabalho apresenta um breve histórico da língua alemã e da importância do Instituto Goethe para esta língua no Brasil. Desde o início da imigração dos alemães no século 19, a língua alemã vivenciou diferentes situações em diferentes épocas. Hoje em dia, a demanda por esta língua é crescente, ela é vista como uma linguagem cultural europeia de grande importância, e cada vez mais, sobretudo, como chave para o sucesso profissional e acadêmico. Neste contexto, trata-se do papel do Instituto Goethe, começando com um resumo histórico sobre a instituição, suas iniciativas e atividades principais no Brasil e sua importância para o alcance da língua alemã no país. Certamente, o Instituto pode ser visto como a principal instituição para a preservação e promoção da língua alemã no Brasil.

Palavras-chave: Instituto Goethe, História da língua alemã no Brasil, Ensino de Línguas.

Abstract

This paper presents a brief summary about the history of the German language and the importance of the Goethe Institute for this language in Brazil. Since the beginning of the German immigration in the 19th century, the German language has gone through several ups and downs. Nowadays, the demand for German is constantly increasing, the German language is considered a cultural European language of great importance, and more and more as a key to academic and professional success. In this context, the importance of the Goethe Institute is illuminated in more detail. Starting with a brief history of the Institute, its contents, key initiatives and activities in Brazil and its importance for the German language will be presented. Undoubtedly, the Institute can be viewed as the principal institution for the preservation and promotion of the German language in Brazil.

Keywords: Goethe Institute, History of the German language in Brazil, Language Teaching.

Introdução

Este trabalho tem como objetivo descrever de que forma o Insituto Goethe contribuiu para a difusão da língua alemã no Brasil. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que, inicialmente, apresenta um breve histórco sobre o surgimento do idioma alemão no país desde a chegada dos primeiros imigrantes alemães no século dezenove. Posteriormente, apresenta a história do Instituto Goethe e, em seguida, ilustra sua expansão e sua importância para a língua alemã até o contexto atual brasileiro. Nas considerações finais, mais uma vez, reflete-se a grande contribuição dessa instituição para a promoção da língua e cultura alemãs no Brasil.

Uma breve história sobre os Alemães e a língua alemã no Brasil

A fim de compreender a situação atual da língua alemã no Brasil precisamos voltar o olhar para a história e o surgimento desta língua no país. A imigração alemã começou em 1824, logo após a independência do Brasil. A Imperatriz Maria Leopoldina da Áustria, com o objetivo de colonizar os alemães no sul do Brasil, queria lançar uma europeização da população contra os proprietários portugueses, a fim de proteger a região pouco povoada do sul do Brasil contra a Espanha (HINRICHS, 2012).

Segundo o mesmo autor, a motivação do povo alemão, naquela época, para vir para o Brasil era muito grande, eles eram pobres, cansados da guerra e sem perspectivas. O Brasil ofereceu a chance de uma nova vida, promovendo a ideia da "terra prometida", e os incentivos oferecidos pelo governo brasileiro eram favoráveis, como: pagamento de despesas, até 70 hectares de terra livre, sementes e a liberdade de religião. No entanto, a realidade era diferente, quando no país os imigrantes viram-se confrontados com condições adversas, entre elas: a selvaúmida e espessa; a vegetação densa; e inúmeros perigos – variedade de cobras venenosas, aranhas e escorpiões.

A língua alemã ficou restrita ao interior do Brasil por muitos anos, principalmente o Hunsrückisch e o Pommeranisch[1] eram falados. Entretanto, o dialeto estava sujeito a alterações em função do ambiente externo no qual se inseriam os agricultores que falavam português com um sotaque forte, traço que se tornou típico da etnia. Fundamental para manter a língua alemã em circulação foi o fato de que os alemães estavam em grande parte isolados. Igualmente importantes foram as escolas, igrejas, clubes e, posteriormente, os jornais, livros e calendários. Com o idioma veio também sua cultura acompanhante: canções, provérbios e virtudes – especialmente diligência e ordem (HINRICHS, 2012).

Segundo o mesmo autor, a história de sucesso da imigração alemã para o Brasil foi repentinamente levada a um impasse. Em 1937, Vargas dissolveu o parlamento e reinou durante oito anos como um ditador. Ele operou uma assimilação cada vez mais agressiva, por causa de um perigo presumido que os agricultores alemães representavam para ele, assim como os povos italianos e japoneses. Sendo assim, Vargas colocou-os sob uma pressão crescente. Primeiro ele proibiu estrangeiros de serem proprietários de indústria e comércio, e finalmente chegou a proibição de se falar alemão em público.

Assim, a língua estrangeira ensinada na maioria das escolas do país foi banida de um dia para outro, os jornais fechados, livros confiscados, vieram as prisões e internações. Temendo represálias, muitos pais não colocavam seus filhos para estudar a língua alemã. Houve um conflito de gerações, que é  sentido ainda hoje (HINRICHS, 2012).

Por fim, o autor conclue que, atualmente, a maioria dos descendentes vivem nas cidades grandes do Brasil, muitos deles têm vergonha do dialeto – um desdobramento triste. Poucos jovens não são fluentes na língua alemã, nos dias de hoje esse idioma é comum apenas nas gerações mais antigas. A minoria alemã é uma parte significativa da população no sul do Brasil, estima-se que cerca de 10 a 20%  (até 5 milhões de pessoas), no que se refere à população brasileira representa aproximadamente 1 a 2% do total.

Neste momento, a posição do alemão como língua estrangeira no Brasil é relativamente forte. Ele é visto como uma linguagem cultural europeia importante, e sobretudo como chave para o sucesso profissional e acadêmico. O número de estudantes alemães no Brasil também têm aumentado nos últimos anos (COUTO, 2012).

A história do InstitutoGoethe

O Instituto Goethe foi fundado na Alemanhaem 1951, como sucessor da Academia Alemã (Deutsche Akademie, DA). Sua primeira tarefa foi fornecer formação complementar aos professoresestrangeiros de alemão, na Alemanha. Os primeiros cursos promovidos pelo Instituto começaram em Bad Reichenhall, Bavaria em 1953. Devido à crescente demanda, novos centros de ensino logo se abriram (GOETHE INSTITUT).

Em 1958, foi publicado o primeiro livro didático desenvolvido pelo Instituto Goethe chamado Schulz-Griesbach, apresentado na figura 1 (SCHULZ-GRIESBACH, 1958).

A partir de 1959, o Instituto leva gradualmente a cultura alemã ao exterior, sinalizando para uma intensificação da política cultural externa da Alemanha. O trabalho cultural envolvendo o diálogo e a parceria foi declarado o terceiro pilar da política externa alemã. Em 1976, o Instituto atingiu o status de uma organização cultural independente (GOETHE-INSTITUT).

A queda do Muro de Berlim também é um marco importante, como a abertura da Europa Ocidental levou a um forte enfoque das actividades nesta área, na década de 1990. Como resultado muitos novos institutos foram criados. Após a fusão com a Inter Nationes, instituição fundada em 1952 pelo Ministério de Negócios Estrangeiros[2] para divulgação da Alemanha no exterior, no dia 21 de setembro de 2000, o Instituto passou a se chamar Instituto Goethe Inter Nations de janeiro de 2001 até julho 2003 (GOETHE-INSTITUT).

Figura 1: Schulz-Griesbach (1958).

Fonte: Deutsche Sprachlehre für Ausländer

Outra data marcante na história do Instituto Goethe foi o ano 2004, quando foi criado o primeiro centro de informaçãoocidental em Pjöngyang, Coreia do Norte, o que reflete a sua importância internacional no mundo (GOETHE-INSTITUT).

Hoje em dia, o Instituto Goethe oferece uma ampla variedade de serviços, entre cursos de línguas, compilação de material didático e formação de professores. Também contribui para a pesquisa científica e participa de iniciativas políticas relacionadas à linguagem. Organiza programações de eventos e faz contribuições para vários festivais e exposições nas áreas de cinema, dança, música, teatro, literatura e tradução. Com bibliotecas e centros de informação, plataformas de discussão em áudio e vídeo e diversas publicações objetivam proporcionar uma imagem contemporânea da Alemanha (GOETHE-INSTITUT).

Em 2011, comemorou-se os 60 anos da política de divulgação da cultura alemã no exterior, do diálogo internacional e da história cultural da República Federal da Alemanha. Ao todo, o Instituto conta com 150 unidades espalhados em 93 países por todo mundo, mais de 3.000 funcionários, mais de 100.000 eventos culturais, e milhares de visitantes e de estudantes no mundo inteiro (EMBAIXADA DA ALEMANHA NO BRASIL, 2011).

O Instituto Goethe e sua importância para a língua alemã no Brasil

Os Institutos Goethe hoje em dia são as instituições mais importantes para a divulgação da língua alemã no Brasil. As primeiras unidades foram inauguradas no país nas décadas de 1960 e 1970, a fim de estimular o ensino do alemão como língua estrangeira. Naquela época, o governo alemão tinha uma política de promover fortemente a cultura e a língua alemãs, fundando institutos com cursos livres para o ensino da língua em vários países, incluindo o Brasil. Assim, em setembro de 2012, o Instituto Goethe de Salvador comemorou 50 anos, e o de Curitiba o seu 40º aniversário (GOETHE BRASILIEN).

A “rede” Goethe no Brasil é composta de instituições em diversas cidades do país. São 5 Institutos Goethe distribuídos nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre; um Centro Goethe em Brasília; 6 Sociedades Culturais em Belém, Fortaleza, Recife, São Bento do Sul, Joinville e Blumenau; e 22 Centros de Exames (GOETHE BRASILIEN).

Os Institutos Goethe e os Centros Goethe oferecem uma vasta gama de atividades para aprender tanto a língua alemã quanto sobre a cultura e a sociedade alemãs. Diferente dos Institutos, as Sociedades Culturais não são instituições alemãs, elas constituem instituições do país em que estão localizadas que trabalham em estreita colaboração com o Instituto Goethe. Os Centros realizam, em colaboração com os parceiros, eventos culturais, oferecem cursos e exames e fornecem informações atualizadas sobre a Alemanha (GOETHE BRASILIEN).

O trabalho das Sociedades Culturais se baseia nos princípios da política cultural e educacional estrangeira, a cooperação com o Instituto Goethe é intensa e confiante. As Centrais de Exames são instituições autorizadas a aplicar os exames do Instituto Goethe. Em geral, as instituições licenciadas também oferecem cursos preparatórios para os exames. Estes centros podem ser Institutos Goethe, Sociedades Culturaisou parceiros para aplicação de exames (GOETHE BRASILIEN).

O Instituto Goethe oferece uma ampla gama de cursos de alemão em suas unidades em todo Brasil, onde também se pode fazer uma série de exames internacionalmente reconhecidos (como o TestDaF ou o BULATS). Outra opção são os cursos online para iniciantes. Esta modalidade de curso propicia maior flexibilidade de horários e autonomia aos alunos. Trata-se de um programa interativo e orientado para a ação, com base em situações da vida cotidiana. Além disso, os aprendizes têm que resolver várias tarefas em conjunto na plataforma de aprendizagem online, na qual também são oferecidas várias orientações sobre como aprender a língua. Um tutor dá suporte durante o curso, além de ser responsável pela correção das tarefas e por auxiliar os estudantes (GOETHE BRASILIEN).

Além de aulas de língua alemã, o Instituto oferece muitas outras possibilidades que envolvem a cultura e línguas alemãs. Um aplicativo online gratuito para iphones chamado “Alemanha Aqui" fornece informações sobre mais de 100 lugares e personalidades para aproximar um pouco mais a Alemanha do Brasil; multimídiaem alemão e português, com mapas, listas e uma visão de realidade aumentada no iphone . Outro exemplo de atividades são as competições. Como a competição de vídeo que foi feita por ocasião da Copa do Mundo de Futebol Feminino na Alemanha em 2011; mais de 200 jovens brasileiros participaram (GOETHE BRASILIEN).

O programa Deutschland für Anfänger (Alemão para Principiantes), uma exposição multimídia e interativa projetada sobre a Alemanha, apresentada pelo Instituto Goethe no Ano de Alemanha + Brasil 2013 – 2014, ofereceu uma perspectiva bem-humorada e auto-crítica sobre a Alemanha e seus habitantes. A exposição respondeu a perguntas sobre a história, a cultura e a política da República Federal Alemã de uma forma interessante e divertida, como, por exemplo: "Você sabe quantas salsichas cada alemão come, por ano?" ou "Você sabe o que os alemães preferem dar no Natal?". Esta exposição foi exibida em vários locais em todo o Brasil até maio de 2014.

Pfeffersäcke im Zuckerland. Eine Menschenausstellung(Sacos de pimenta no país do açúcar. Uma exposição de homens) é o nome de um projeto de teatro e exposição sobre os passos de milhares de alemães que emigraram para a América do Sul no século 19. Como é que os seus descendentes vivem hoje e como determinam a sua identidade? Como eles se definem etnicamente, nacionalmente ou transculturalmente? Em julho de 2013, a peça fez uma turnê por São Paulo no âmbito das festividades do ano Alemanha + Brasil 2013-2014, e em janeiro de 2014, em Hamburgo (GOETHE BRASILIEN).

Contudo, as ações do Instituto Goethe não se direcionam apenas para pessoas  interessadas em experimentar a cultura alemã e aprender a língua, são voltadas também para os professores da língua alemã. Organiza, juntamente com as instituições parceiras, eventos de capacitação no Brasil e oferece bolsas de estudos para professores de alemão para estudar na Alemanha.

Como resultado de sua política de linguagem, o Instituto Goethe em São Paulo ministra cursos de formação para professores e instrutores de Alemão da América do Sul (DLA) desde 1988. Estes cursos preparam o ensino teórico e prático da língua alemã para adultos. Nos últimos 20 anos, mais de 180 professores de línguas estrangeiras da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela obtiveram o certificado DLA (Deutschlehrerausbildung, formação de professores). Com a conclusão do programa de treinamento completo receberá o Grünes Diplon (Diploma Verde), que lhe permite ensinar alunos adultos nos níveis A1 - B1[3] no Instituto (GOETHE BRASILIEN).

Além deste programa de formação, o Instituto possui centros de aconselhamento educacional em seis cidades diferentes em todo o Brasil, fornecendo ajuda prática e suporte para os professores de alemão. Vários projetos na web disponibilizam informações interessantes e dão orientações sobre como conduzir as aulas com mais criatividade. O programa Sport und Deutsche (Esporte e Alemães) fornece informações diversas e atuais sobre o esporte alemão e suas estrelas, um outro programa chamado SprachenQuests (Missões de Linguagem) é composto por vários pequenos projetos para aulas de alemão (com temas como "Invenções alemãs" ou "a Colônia se apresenta"), incentivando pesquisas na internet, o trabalho em equipe e exercícios de linguagem (GOETHE BRASILIEN).

Uma iniciativa na qual o Instituto Goethe desempenha um papel fundamental é chamada “Escolas: uma Parceria Para o Futuro" (PASCH). Em 2008, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Federal da Alemanha lançou esta iniciativa, que fortalece e intensifica os contatos em uma rede mundial formada por 1.500 escolas parceiras, caracterizadas por seu vínculo especial com a Alemanha. O objetivo da iniciativa é despertar os jovens com um duradouro interesse pela Alemanha moderna, sua sociedade e idioma. O Instituto Goethe financia 16 escolas PASCH em todo o Brasil. Oferece aos professores cursos de formação continuada em metodologia e didática, desenvolvimento da linguagem e material didático moderno e multimídia para as escolas. Como parte desta iniciativa, o Goethe-Institut também envia especialistas para supervisionar o ensino nessas escolas parceiras (GOETHE BRASILIEN).

Está além do escopo deste artigo listar todas as atividades desenvolvidas pelo Instituto Goethe no Brasil.

Considerações Finais

Graças às intensas e duradouras iniciativas do Instituto Goethe, ele oferece uma contribuição extremamente valiosa na promoção da língua e cultura alemãs como um catalisador para aprofundar ainda mais as já frutíferas relações germano-brasileiras.

Mesmo o alemão como língua estrangeira no Brasil ainda figurando atrás do Inglês, do Espanhol e do Francês, na disposição das línguas mais procuradas, as iniciativas do Instituto Goethe têm contribuído para despertar a consciência de muitos brasileiros, especialmente os mais jovens, para a aprendizagem da língua alemã; e mostrado a importância crescente de falar alemão, seja para fins pessoais ou de negócios.

Espera-se que com as medidas para promover a língua alemã e os efeitos positivos desta evolução profícua, a cooperação Brasil-Alemanha em ciência, tecnologia, cultura e todas as outras áreas possam ser reforçadas e aprofundadas.

Referências



[1]
            O alemão pomeranoé uma variedade do baixo-alemão, também chamado de Pommersch, Pommerschplatt ou Pommeranisch. O baixo-alemão é reconhecido e protegido como língua minoritária desde 1994 pela Comunidade Europeia. O Hunsrückisch é uma língua germânicada família Franco-Moselafalado na região do Hunsrückno sudoeste da Alemanha.A forma brasileira da língua foi muito influenciada pelas novas fauna, flora e pelas novas línguas com as quais passou a ter contato.

[2]          [2]O Ministério das Relações Exteriores (Auswärtiges Amt, AA) é responsável por manter relações com outros países, o que inclui a manutenção e a promoção das relações externas no que diz respeito à política, economia, cultura, imprensa e relações públicas, cooperação para o desenvolvimento consular e do direito internacional e das questões ambientais e sociais.

[3]          [3]Os níveis são definidos pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas: Aprendizagem, Ensino, Avaliação (QECR), um guia usado para descrever as realizações dos alunos de línguas estrangeiras na Europa e, cada vez mais, em outros países. Disponível em:http://en.wikipedia.org/wiki/Common_European_Framework_of_Reference_for_Languages