A História do Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro (ICUB) e a Gestão do Ensino∕Aprendizagem de PLE
Resumo:
Este artigo relata, em linhas gerais, a história do Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro (ICUB) desde a sua fundação em 1940 até o momento atual (2013) com um enfoque que situa o Instituto em termos de filiação institucional e as consequentes implicações políticas disso em termos da gestão do ensino ∕aprendizagem de Português Língua Estrangeira (PLE); abordagens de ensino e formação de professores; materiais didáticos produzidos e utilizados; cursos oferecidos; e sistemas de certificação adotados. Inclui-se ainda, a partir da metodologia da história oral, o texto completo de uma entrevista feita em Montevidéu (Uruguai) em maio de 2013 com os atuais diretor e diretora pedagógica do ICUB quem vislumbram, inclusive, projetos futuros deste que é o mais antigo centro de PLE fundado pelo governo brasileiro no exterior.
Palavras-chave:história do ensino de línguas; PLE;ICUB; PLE no Uruguai.
Abstract:
This paper relates, in general, the history of the Institute of Uruguayan-Brazilian Culture (ICUB in Portuguese) since its foundation in 1940 until the present time (2013) focusing on the Institute´s institutional affiliation and its resulting policy implications in terms of Portuguese as a Foreign Language (PFL) teaching ∕learning management;approaches for teaching and teacher training; educational materials that were produced and used; courses offered; and certification systems that have been adopted. It also contains the full text of an interview made in May 2013 in Montevideo (Uruguay) with both, the current director and educational director of ICUB, based on the oral history methodology, as well as a glimpse onfuture projects envisaged by them for this Institute which is the oldest center of PFLfounded by the Brazilian government abroad.
Key-words:history of language teaching; Portuguese as a foreign language (PFL); ICUB; PFL in Uruguay.
Introdução
Historicamente, a promoção do português brasileiro no exterior tem sido instrumentalizada pela política externa brasileira e mais especificamente pela diplomacia cultural do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). A frustração de profissionais, linguistas aplicados e acadêmicos da área de PLE quanto ao estado, muitas vezes amador, da gestão e atuação dessas instituições (ALMEIDA FILHO, 2009, p. 52; FERREIRA, 1996, p. 4) incluindo obviamente o que acontece nas salas de aula como resultado de uma formação de professores e diálogo com as universidades deficientes, entre outros aspectos, é legítima, porém precisa incorporar uma visão política que vislumbre uma nova institucionalidade para o PLE.
A partir de uma análise da história do Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro (ICUB) pretende-se mostrar prós e contras, mas sobretudo limitações dessa lógica de instrumentalização do ensino da língua no exterior principalmente no momento atual em que a demanda pelo português tanto como língua estrangeira (PLE) quanto como segunda língua (PL2)[1] vem aumentando consideravelmente não só na internet[2] (a nossa é a quinta língua mais usada no meio virtual) quanto em cursos presenciais no Brasil e no mundo, e à distância.
Atualmente, a Rede Brasileira de Ensino no Exterior (RBEx) oficial é composta pelos Centros Culturais Brasileiros (CCBs), vinculados às missões diplomáticas; Institutos Culturais Bilaterais (ICs), entidades autônomas e de direito privado; e leitorados brasileiros que, assim como os CCBs são subordinados à Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP), que integra o Departamento Cultural do Itamaraty.
Mas existem também cursos independentes em universidades, centros de línguas e sites da internet, sem falar nas aulas particulares. O ICUB, quando foi fundado em 1940, era vinculado ao governo e financiado pelo Ministério das Relações Exteriores sendo os cursos totalmente subvencionados, ou seja, eram gratuitos. Deste modo, apesar do nome de Instituto, que sugere o status de Instituto Cultural Bilateral (que só viria a se materializar em 2012), o ICUB em seus primórdios se caracterizou como Centro de Estudos Brasileiros (CEB), nome anterior dos CCBs, assim chamados desde 2008.
A metodologia da História Oral (HO)
A HO parte do relato vivo do(s) sujeito(s) histórico(s). Para este artigo, partimos do relato feito a nós em maio de 2013 pelo diretor do ICUB em Montevidéu, Prof. Severino Cunha Farias (vinculado há 36 anos à instituição), e pela diretora pedagógica, Profa. Deolinda Lahm. Trata-se de empoderar esses atores, no caso agentes terceiros[3] da Operação Global do Ensino de Línguas (OGEL) elaborada pelo Prof. Almeida Filho (2011), para conhecer a história em primeira pessoa e, a partir disso, vinculá-la com causas sociais que alimentam movimentos e favorecem mudanças (MEIHY, 2011). A mudança almejada é um novo marco institucional, mais amplo, para o ensino∕aprendizagem de PLE-PL2. Neste sentido, a apropriação da história com uma visão política é o método utilizado para entender processos antigos e propor novos.
Para efeito deste artigo, a história oral acadêmica, também conhecida como história oral intelectual é a mais apropriada em oposição à história oral institucional (comunitária ou de ou para empresas). A história oral acadêmica se baseia em fundamentação teórica apurada, procedimentos operacionais justificados, eventuais diálogos historiográficos, inscrição nos diálogos intelectuais e avaliação da fortuna crítica (MEIHY, idem). A fortuna crítica ou revisão de literatura se refere ao acesso ao que já foi pesquisado sobre o tema proposto, condição prévia para iniciar uma outra pesquisa sobre o mesmo tema. Neste sentido, encontramos uma dissertação de mestrado (FERREIRA, 1996) e uma tese de doutorado (DINIZ, 2012) que mencionam o ICUB, ainda que não numa perspectiva histórica comparada com preocupações em termos de espaço político, de tomada de decisões e poder quanto ao ensino∕aprendizagem de línguas, como fazemos aqui.
História do ICUB desde 1940: relato oral do diretor do Instituto
O Instituto Cultural Uruguaio-Brasileiro foi fundado em 22 de agosto de 1940, sendo o primeiro Centro de Estudos Brasileiros criado pelo Itamaraty no exterior. Foi o primeiro porque houve em Montevidéu uma grande exposição de livros, uma feira do livro, e o Brasil mandou muitos livros. Quando terminou a feira, esses livros ficaram aqui, estavam arrumando as representações brasileiras aqui no Uruguai neste edifício onde estamos até hoje. Aqui se reuniram o Consulado do Brasil, a Câmara de Comércio Brasil-Uruguai, o Instituto do Café... e então o edifício passou a chamar-se Palácio Brasil. E o Clube brasileiro também foi fundando aqui juntamente com a biblioteca, essa que está aqui até hoje. Então foi um sucesso, houve muito interesse pela pesquisa de coisas brasileiras, tanto que o Itamaraty resolveu mandar o Antônio Houaiss para organizar a seção didática e a partir daí foi criado o Instituto Cultural Uruguaio-Brasileiro, num acordo entre os governos brasileiro e uruguaio. Pelo acordo, um Instituto uruguaio também seria aberto no Rio de Janeiro, capital da república de então, o que efetivamente aconteceu, sendo que esse Instituto no Rio foi fechado em 1964 e depois reabriu.
Todo o material didático do ICUB começou a ser produzido aqui em 1942. Em 1945 produzimos o Caderno Escolar1 e 2, em 1953 lançamos os Exercícios de Revisão e depois começamos a editar o livro Lições de Português em 1970, o Leitura para Conversação em 1971 e o Viagem ao Brasil em Imagens em 1975. Até 1991, quando foi assinado o Tratado de Assunção, que estabeleceu o Mercosul, o Instituto foi o único centro de ensino de português no Uruguai. Depois disso, houve uma proliferação de cursinhos sem qualificação, com todos os preços e todos os gostos, mas o ICUB continuou sendo o Instituto com maior tradição no ensino do português no Uruguai.
Hoje em dia temos aproximadamente 350 alunos mais os contratos para ensinar em empresas uruguaias que têm negócios com o Brasil, sendo que hoje em dia somos autônomos, não somos mais financiados pelo governo brasileiro, desde o ano passado (2012). Trata-se de uma nova política do governo brasileiro, os centros da Colômbia e do Equador também são independentes financeiramente neste momento. A demanda pelo português no Uruguai tem aumentado e tenho notado que pessoas que têm só uma noção de português estão no mercado dando aulas por causa da demanda.
Atualmente, no ICUB nós temos nove professores. Eles são todos formados em letras. Alguns em letras e filosofia, como eu, temos uma professora, a Ivone, que é formada em letras e direito. A Profa. Deolinda, diretora pedagógica do ICUB, é formada em letras e jornalismo. O material didático que nos utilizamos atualmente é o Falar... Ler... Escrever... Português um curso para estrangeiros das autoras Emma Eberlein O.F. Lima e Samira A. Iunes. Este livro é usado nos quatro primeiros níveis do curso, que cobre a parte estrutural da língua. Mas temos também preocupação com as habilidades comunicativas dos alunos, sobretudo nos níveis avançados. Na verdade nosso enfoque é estrutural-comunicativo. Eventualmente, usamos também materiais didáticos produzidos no Centro Cultural Brasileiro de Buenos Aires.
Na verdade nós nunca fomos um Centro de Estudos Brasileiros, que agora se chamam Centros Culturais Brasileiros. Sempre fomos um Instituto binacional. Além da oferta de cursos de língua, também temos atividades culturais e mesmo curso de português como língua de herança, destinado a filhos de brasileiros nascidos no Uruguai ou brasileiros que moram há muito tempo no Uruguai. Este curso foi lançado há dois anos, mas não tivemos muita receptividade, tivemos uns 4-5 alunos. O que nos pedem é cursos para crianças, mas aqui não nós temos condições de oferecer, por causa de nossa localização numa avenida muito movimentada, isso é perigoso.
Oferecemos também espanhol para brasileiros, temos dois grupos, onde damos as primeiras noções de espanhol para quem chega aqui. Existe ainda o Taller de Conversación para alunos del ICUB. Trata-se de um curso grátis para os alunos que fazem os cursos aqui e que querem praticar a língua. São encontros para conversação sobre temas pré-definidos. Outros cursos especiais são música brasileira (carga horária de 30 horas), pronúncia em português (30 horas), preparação para o exame CELPE-BRAS (30 horas), Panorama Cultural do Brasil (50 horas), Redação Comercial (50 horas), Curso de Conversação (50 horas) e Atualização do Idioma Português, níveis 1 e 2 (100 horas). Os cursos regulares estão estruturados em três anos letivos, divididos cada ano em: fundamental (nível 1 e 2), equivalente ao nível A2 segundo o marco comum europeu de referência para as línguas, intermediário (níveis 3 e 4), equivalente ao nível B1 do marco europeu e avançado (nível 5 e 6) equivalente ao nível B2 do marco europeu.
Atualmente, há ainda a possibilidade de cursar os níveis fundamental e intermediário de forma intensiva (1 semestre cada curso). Para os cursos preparatórios do CELPE-BRAS não temos nenhum requisito específico, mas como o exame parte do nível intermediário em sua qualificação, sugerimos que o aluno tenha pelo menos o nível intermediário do nosso curso regular para fazer o exame. Os cursos são dados por professores brasileiros, muitos deles preparados pela Profa. Margarete Schlatter, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os cursos preparatórios seguem a metodologia sugerida pelo exame, ou seja, se baseia nas tarefas utilizadas pelo CELPE-BRAS. O curso é oferecido duas vezes por ano, coordenado com as duas datas anuais de realização do exame.
O curso de redação comercial ensina a fazer uma carta com linguagem bem técnica, mas ao mesmo tempo simples e direta. O tema é comercial ou administrativo, diferente do CELPE-BRAS que trabalha vários gêneros textuais: e-mail, propaganda, entre outros. Então a estrutura da carta que ensinamos se divide em três parágrafos: Primeiro os cumprimentos, segundo os objetivos, para quê é a carta, e por último, a despedida. Eu mesmo dou esse curso de 50 horas.
O curso de atualização do idioma português só é oferecido quando há demanda. Agora, por exemplo, vamos oferecer um no interior do Uruguai. Nós colaboramos também com o Instituto de Professores Artigas (IPA), que está formando professores de português uruguaios para dar aulas na rede de ensino local. A primeira turma ainda não se formou. Além disso, é exigido a todos esses professores o nível avançado superior do CELPE-BRAS. Os cursos regulares do ICUB têm uma equivalência com os níveis de competência estabelecidos pelo marco comum europeu de referência para as línguas e nisto saímos à frente do Instituto Camões, já que somos o único instituto de língua portuguesa juntamente com o Instituto Cultural Anglo-Uruguaio, a Aliança Francesa, o Instituto Goethe e o Instituto de Cultura Italiana de Montevidéu a contar com a certificação oficial da Associação de Centros de Avaliação em Línguas Europeias, devido a uma gestão feita por nós junto à Delegação da Comissão Europeia no Uruguai.
Essas conquistas que obtivemos no Uruguai devem-se à tradição da nossa instituição e à reputação obtida ao longo desses 73 anos. Somos responsáveis pela aplicação das provas de língua portuguesa aos diplomatas do Ministério de Relações Exteriores uruguaio, incluindo as provas de admissão à carreira diplomática. Ainda assim, existem as provas de língua promocionais e as feitas com os diplomatas uruguaios a caminho do Brasil para serviço na Embaixada ou nos consulados no país. Além disso, temos muitos diplomatas entre nossos alunos regulares. A eles também oferecemos cursos de conversação grátis. A cooperação com o Ministério das Relações Exteriores Uruguaio tem mais de 30 anos.
Quanto ao perfil dos alunos, o que tenho observado é que ao longo do tempo os alunos são cada vez mais jovens, na faixa etária de 16 a 25 anos. A explicação disso é o mercado de trabalho. Muitos jovem pensam em trabalhar nas empresas brasileiras. Quando cheguei aqui nos anos 70 a maioria dos alunos fazia português por diletantismo, tanto era assim que nós oferecíamos na época cursos de literatura, literatura pesada. Tínhamos também um curso só de gramática. Quanto ao uso das tecnologias da informação e da comunicação no ensino, temos um professor com formação em Minas Gerais, na área de informática aplicada à educação, que deu aulas daqui, à distância, a alunos da Suiça. Estamos nos preparando para melhor equipar as nossas salas com telas para fazer uso dessas tecnologias. Não existe coordenação entre o ICUB e os demais centros brasileiros. Nunca existiu. O Instituto Italiano, por exemplo, coordena a parte cultural. Há exposições que passam por todos os países vizinhos. No caso dos nossos Institutos não é assim. Nunca deu certo essa forma de funcionamento, eu cheguei a falar lá em Brasília sobre isso. Já a relação com a Embaixada do Brasil aqui é muito boa, sempre recebemos todo o apoio deles, inclusive o nosso presidente de honra aqui do Instituto é o embaixador brasileiro. O conselho administrativo do nosso Instituto antes era composto majoritariamente por pessoal da embaixada, mas depois mudou por causa de uma lei no Brasil porque nos recebíamos subvenções e funcionários públicos não podiam estar envolvidos na gestão.
Hoje em dia, quase todos os membros são uruguaios, tem somente duas brasileiras, que não são funcionárias públicas. A nossa biblioteca tem mais de 10.000 volumes e temos uma coleção grande da brasiliana, desde a fundação do Instituto. A biblioteca é aberta ao público e temos ainda um convênio com a Universidade da República. Antes nós tínhamos dois andares e tínhamos espaço para música e teatro, agora só temos o sexto andar, principalmente para diminuir gastos com aluguel. Em termos de futuro, pensamos em fortalecer os programas de ensino de português à distância, mediante cursos online. Estamos pensando em oferecer pacotes de aulas por temas, baseados nos interesses dos alunos. Nosso público alvo será o uruguaio, mas evidentemente estamos abertos a oferecer cursos para pessoas de outras nacionalidades. De fato, já temos em nossos cursos regulares alunos de outras nacionalidades residentes em Montevidéu. Para comemorar o 70º aniversário do Instituto (em 2010) organizamos a publicação de um livro (fim do relato).
De fato, a publicação de livros traduzidos tem sido uma constante na estratégia de promoção oficial da língua e da cultura brasileiras no exterior que data de antes da fundação do ICUB em 1940.
Considerações Finais
Como subsídio para as considerações finais, elaboramos um quadro comparativo entre a situação de certos indicadores do ICUB em Montevidéu coletados em 1996, ano da pesquisa feita pela Profa. Itacira Ferreira, e em 2013, ano da pesquisa para a dissertação deste autor (2013), apresentada na Tabela 1:
Tabela 1 – Comparação entre indicadores do ICUB
ICUB - Montevidéu | 1995 | 2013 |
Status do Instituto | Vinculado ao Itamaraty | Independente |
Número de alunos | 1.250 | 350 |
Número de professores | 11 | 9 |
Nº de professores formados em letras | 3 | 9 |
Abordagem do material didático utilizado | Estruturalista | Gramatical comunicativizada |
Nº de cursos oferecidos | 6 | 14 |
Nacionalidade da maioria dos professores | Uruguaia | Brasileira |
Fonte: De Castro (2013).
Ao ter contato com a história do ICUB de Montevidéu, uma primeira observação deste autor, que deu aulas no Instituto em 1995 e voltou a visitá-lo em maio de 2013, é a de que o lugar, com seu mobiliário impecavelmente preservado desde os anos 40 do séc. XX, é um tesouro para a memória do ensino do PLE no exterior. O que não quer dizer que sua história não se apresente carregada de contradições.
Antes de tecer qualquer comentário, gostaríamos de isentar de qualquer culpa as pessoas que estão ou estiveram à frente do ICUB, sejam diretores ou professores, visto que não cabe a eles fazer uma leitura crítica sobre o trabalho que têm desenvolvido. Não são acadêmicos da área de Linguística Aplicada e com certeza fizeram e fazem o melhor dentro de suas possibilidades e visões. Na verdade, agradecemos imensamente aos diretores do Instituto pela amabilidade com a qual nos receberam, possibilitando assim a realização deste artigo. Não obstante, o ICUB que vemos em 2013, como centro mais antigo da rede oficial brasileira de promoção do PLE no exterior, atualmente abandonado à sua própria sorte e desconectado dos outros centros, não reflete nem de longe o seu próprio passado de glórias e nem a pujança do Brasil membro dos BRICS (grupo de países emergentes que inclui o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul) que é a 7ª economia mundial, país cuja língua é uma das mais demandadas atualmente.
O corpo discente do ICUB encolheu assim como o docente, apesar da oferta da língua portuguesa ter se tornado obrigatória no Uruguai depois do Tratado do Mercosul (tornando-se língua transnacional) e de que todos os professores do Instituto atualmente sejam brasileiros e formados em letras. O material didático utilizado continua sendo o mesmo, estruturalista, de muitos anos, apesar das preocupações comunicativistas atuais de seus gestores. O marco europeu de referência é utilizado quando o nosso contexto é o sul-americano, mais especificamente, o do espaço do Cone Sul, no qual línguas oficiais convivem com línguas autóctones, sendo esse o traço principal de nossa identidade linguística como região.
O ICUB, apesar de independente desde 2012, mantém boas relações com o Itamaraty e com a Embaixada do Brasil no Uruguai, de modo que pode continuar servindo aos interesses da política externa brasileira, mas também oferece cursos de conversação sobre temas de interesse de seus alunos, além de cursos de redação profissional; apoia a formação de diplomatas uruguaios e dá até curso de espanhol para brasileiros, atendendo demandas locais que vão muito além da instrumentalização conceitual histórica dos Centros de Estudos Brasileiros pela diplomacia cultural do Itamaraty.
Essa institucionalidade que vai além precisa de uma liderança, não no sentido de uma hierarquização autoritária, mas de uma coordenação participativa que traga apoio teórico e prático sobre língua e cultura, instrumentos, materiais, abordagens, cursos de formação, noções de gestão, entre outros elementos. Este é um espaço de gestão política do ensino∕aprendizagem da língua portuguesa que não foi, não é e nunca será ocupado pelos diplomatas do Itamaraty, e que precisa ser ocupado por nós, profissionais da Linguística Aplicada. Somos bons teóricos da linguagem, mas temos fracassado na missão de dar um passo além, propositivo e executivo, que implica em assumir os espaços de tomada de decisões e, portanto, de poder quanto à gestão do ensino do PLE-PL2 e das línguas materna, segundas e estrangeiras em geral no Brasil.
Referências
- ALMEIDA FILHO, J.C.P. Linguística Aplicada, Ensino de Línguas e Comunicação. Campinas, SP: Pontes Editores e ArteLíngua, 3ª edição, 2009.
- ______. Fundamentos de Abordagem e Formação no Ensino de PLE e de outras línguas. Campinas, SP: Pontes Editores, 2011.
- DE CASTRO, F.T. História do Futuro: Diagnóstico e perspectivas de políticas públicas para o ensino/aprendizagem de PLE-PL2 no Brasil do século XXI. Dissertação de mestrado; Universidade de Brasília (UnB), 2013, pág. 76.
- DINIZ, L.R.A. Política Linguística do Estado Brasileiro na contemporaneidade: a institucionalização de mecanismos de promoção da língua nacional no exterior. Tese de Doutorado; Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 2012.
- FERREIRA, I. A. O Processo Ensino∕Aprendizagem de Português língua estrangeira no contexto do Mercosul: Uma análise de abordagem e metodologia. Dissertação de Mestrado; Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 1996.
- MEIHY, J.C.S. e RIBEIRO, S.L.S. Guia Prático de História Oral. São Paulo: Editora Contexto, 2011.
[1] [1] PLE- Português ensinado num país onde é considerado língua estrangeira; PL2- Português ensinado a falantes de outras línguas num país onde é língua usual, como no Brasil.
[2] [2] As cinco línguas mais usadas na internet são da primeira à última: inglês, chinês, espanhol, japonês e português. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,portugues-e-5-lingua-mais-usada-na-web-,1031475. Consultado em 5 de julho de 2013.
[3] [3]O Prof. Dr. Almeida Filho define três atores principais da OGEL: alunos, professores e agente terceiros (diretores de escolas, gestores de ministérios, autores de materiais didáticos, pais de alunos, entre outros). Ver nas Referências ao final do artigo Almeida Filho, 2011.