Ano 4 - Nº 4 - 1/2010

6. Os Centros Binacionais Brasil-Estados Unidos: sua importância na história do ensino de línguas no Brasil

RESUMO: Este artigo tem como objetivo examinar a importância dos Centros Binacionais Brasil-Estados Unidos dentro da história do ensino de línguas noBrasil. Para isso, fizemos uma revisão histórica do que foi escrito sobre o papel da língua inglesa no Brasil nas décadas de 30 e 40, data em que os Centros surgiram, e também do contexto político e histórico em que se deu a abertura dos primeiros Centros. Por meio da leitura e análise de documentos, foi possível conhecer como e quando foram fundadas as primeiras instituições e, finalmente, analisamos as diversas contribuições que os Centros têm dado não só para o ensino e aprendizado da língua inglesa no Brasil como também para  o intercâmbio e a promoção cultural entre Brasil e  Estados Unidos.

Palavras-chave: ensino de línguas no Brasil; Centros Binacionais; língua inglesa no Brasil

ABSTRACT: This  paper  aims to examine the Binational Centers in Brazil and their importance to the history of language teaching in the country. Therefore, a historical documentary review was done of the written sources which studied the role of the English language in Brazil in the 30’s and 40’s, taking into consideration the political and historical contexts  in which the opening of the first Centers in the country took place. Through documental analysis, it was possible to find out how and when the first institutions were founded and, finally, to analyze their contributions not only to the field of the English language teaching/learning, but also to the promotion of cultural interchange between Brazil and the United States.

Keywords:language teaching in Brazil; Binational centers; English language in Brazil

 

 

1. Introdução

 a língua inglesa está presente na vida de muitos brasileiros. Cada vez mais crianças, jovens e adultos se interessam pelo inglês e, consequentemente, procuram cursos que ensinam esse idioma falado por milhões de pessoas em todo o mundo. Há mais de 70 anos os Centros Binacionais Brasil – Estados Unidos estão presentes no Brasil com o intuito de ensinar a língua inglesa aos brasileiros e também de divulgar e promover a cultura norte-americana no país.  Os Centros Binacionais são denominados cursos livres e, em sua maioria, não têm fins lucrativos.

Hoje, no Brasil, existem aproximadamente 62 instituições denominadas Centros Binacionais e todas têm em comum o ideal da excelência no ensino do inglês e, também, a oportunidade de promover o desenvolvimento cultural em suas comunidades por meio de bibliotecas, salas de concerto e galerias de arte.  Entretanto, cada Centro tem a sua história individual, já que a abertura de um Centro sempre partiu de iniciativas de âmbito local por membros da sociedade.

Neste trabalho nos propomos a examinar a importância dos Centros Binacionais dentro da história do ensino de línguas no Brasil. Analisamos em que contexto histórico se deu a abertura dos primeiros Centros e a contribuição que essas instituições têm dado para o ensino e o aprendizado da língua inglesa no país. Por meio de uma metodologia analítica documental nos foi possível conhecer e analisar a história desses Centros e acompanhar sua trajetória.  

 

2. Alíngua inglesa no Brasil – anos 30/40

Com a Revolução de 30, a queda da república oligárquica e a saída do presidente Washington Luis, Getúlio Vargas chega ao poder e cria o Ministério da Educação e Saúde Pública nomeando como ministro o Sr. Francisco de Campos que trata de implantar importantes reformas na educação brasileira. A Reforma Francisco de Campos, além de organizar o ensino do país e promover grandes transformações na área, é um marco no que se refere ao ensino de línguas no Brasil. Foi a partir dela que o ensino de línguas vivas no Brasil foi reformulado, repensado e valorizado (CASIMIRO, 2005, p.62).  Pela primeira vez, a disciplina se integra na grade curricular obrigatória das escolas brasileiras e seu ensino e estudo começam a ganhar força no meio cultural brasileiro.

A Língua Inglesa surge então nos programas não mais como instrumental, mas como um curso também de conteúdo (SCHMIDT, 1935, p. 15). Foi a partir de 1931 que o ensino das línguas vivas no ensino secundário oficial se tornou mais sério e responsável. O desenvolvimento da didática das línguas no Brasil tem que “forçosamente ser apreciado ao longo de duas fases claramente definidas: antes de 1931 e depois de 1931” (CHAGAS, 1957, p.83).

O mundo vivia naquele momento grandes transformações econômicas e a língua inglesa era vista por Campos e sua equipe de reformadores como facilitadora nas negociações e relações com outros países. A língua inglesa torna-se mais presente na vida dos brasileiros e o Brasil torna-se cada vez mais alvo de interesse dos EUA que, com a eleição de Franklin Roosevelt para presidente em 1933, anunciam uma nova era e uma nova política para a América Latina. Até então, o francês era o idioma dominante entre as elites brasileiras , mas a partir da década de 1940, houve um interesse crescente por parte das famílias brasileiras de classe média pelo aprendizado da língua inglesa.  

 

3. O Brasil - anos 30/40

Na década de 30, a Alemanha e os EUA tornaram-se os pólos de dois sistemas políticos, duas ideologias e duas práticas comercias opostas: de um lado o autoritarismo antiparlamentar, nacionalista e protecionista e de outro o internacionalismo livre-cambista, a liberal-democracia (MOURA, 1980,p.56). A América Latina tornou-se o centro de um combate comercial, político e ideológico de grandes proporções. A Alemanha e os EUA tinham grande interesse pelo Brasil.

Os EUA, que tinham praticado uma política intervencionista desde o começo do século XX, inauguram a política de boa-vizinhança, abandonando métodos coercitivos e adotando políticas diplomáticas e a colaboração política e militar. Esse país tinha por objetivo impedir a influência européia na América Latina, assegurar a liderança americana no hemisfério e estimular a estabilidade política nos países latino-americanos (MOURA, 1980, p. 58, apud ATKINS, 1977, p.101). A partir da metade dos anos 30, são realizadas uma série de conferências interamericanas com a intenção de viabilizar essa “unidade” tão almejada pelos EUA e discutir posições de consenso em caso de uma eventual guerra.

Quando do início da II guerra na Europa em 1939, a América Latina era um campo de batalha indefinido. Se por um lado, o bloqueio naval britânico fazia diminuir o comércio entre Brasil e Alemanha, as diversas vitórias dos exércitos germânicos seduziam os que simpatizavam com regimes nacionalistas autoritários.  A presença alemã no Brasil preocupava os Estados Unidos.

Em 16 de agosto de 1940 o governo Roosevelt criou o Office for Coordination of Commercial and Cultural Relations between the American Republics, um escritório destinado a coordenar as relações econômicas e culturais dos EUA com a América Latina. Chefiada inicialmente por Nelson Rockfeller, essa agência funcionou até 1946 e muitos de seus projetos tornaram-se parte das funções das embaixadas americanas.  Moura (1986, p.21) aponta que “o Birô era uma agência coordenadora de esforços, ligada à segurança nacional dos EUA que deveria estabelecer um vigoroso programa educacional, de relações culturais, de informação e de propaganda”. No Brasil, o escritório norte-americano teve grande atuação na área da informação, com grande penetração cultural e ideológica. A Divisão de Informações abrangia imprensa, rádio, cinema e educação.

 

4. Os primeiros Centros

Foi nesse contexto histórico que o primeiro Centro Binacional Brasil - Estados Unidos foi inaugurado no Rio de Janeiro, então capital da República, em 13 de Janeiro de 1937. A idéia da criação de uma entidade cultural binacional tinha sido lançada seis anos antes pelo professor Stephen Duggan, do Institute of International Education de Nova York em visita ao Brasil. O Instituto Brasil - Estados Unidos (IBEU) nasceu sob a presença de figuras de destaque na vida pública e política brasileira, como Oswaldo Aranha, Assis Chateaubriand, Vital Brasil, Gilberto Freyre, Afrânio Peixoto e Austregésilo de Athayde em assembléia que reuniu uma centena de pessoas no Palácio Itamaraty.  A primeira sede do Instituto funcionou na sede da Associação Brasileira de Educação e, após dois anos,o IBEU conseguiu alugar sede própria graças às contribuições financeiras provenientes de americanos e brasileiros. Assim que o Instituto foi criado, a embaixada americana doou material didático e publicações para a instituição e também organizou eventos para os professores bem como programas de bolsas de estudo.

O IBEU que começara com três professores e dezoito alunos em 1937, expandiu sensivelmente a área acadêmica em dois anos e, em maio de 1942, criou o Departamento de Ensino de Línguas, com classes regulares de inglês e português para estrangeiros. Ministrava também cursos de História dos EUA e do Brasil e de Inglês Instrumental para médicos, aviadores e enfermeiras.

A influência política e cultural européia era muito forte no Brasil nas primeiras décadas do século XX, principalmente no sul do país. O Rio Grande do Sul era uma província castilhista, mas na década de 1930 já tinha gerado um líder nacional, Getúlio Vargas. Para contrapor-se ao avanço das idéias nacionalistas alemãs, um grupo de intelectuais gaúchos, entre eles o escritor Érico Veríssimo, decidiu criar o Instituto Cultural Brasil Norte-Americano.  Era o ano de 1938 e a iniciativa recebeu total apoio da Embaixada Americana.  Por quase cinco anos o Cultural dedicou-se a atividades eminentemente culturais, mas a falta de conhecimento da língua inglesa por parte da comunidade gaúcha era um fator que impedia uma maior integração entre os países. Foi assim que, a partir de 1943, foi aberto o primeiro curso de inglês do Rio Grande do Sul, pioneiro por décadas no ensino desse idioma.

Foi a partir da década de 30, portanto, que os centros binacionais foram sendo inaugurados de norte a sul do país. Em São Paulo no ano de 1938, em Salvador no ano de 1941, em Fortaleza em 1943, em Belém em 1955, em Brasília em 1963, logo após a inauguração da nova capital do país e assim sucessivamente. Atualmente uma Coligação une os diversos Centros espalhados pelo Brasil. Essa Coligação tem por objetivos estreitar laços entre esses Centros, trocar idéias acerca de assuntos acadêmicos e administrativos e elaborar estratégias para fortalecer a presença das instituições no país.

 

5. Contribuições

O objetivo primordial dos Centros Binacionais é o ensino da língua inglesa. Desde a criação dos primeiros Centros, existe uma preocupação com a excelência do ensino. Para isso, cada Centro deve procurar estar em sintonia com o que há de mais atual em termos metodológicos no ensino de línguas. Muitos Centros preocupam-se com o desenvolvimento profissional de seus professores incentivando-os a participarem de eventos acadêmicos no Brasil e no exterior e exigindo de seus profissionais sólida formação acadêmica. Os Centros são responsáveis pela formação de milhares de pessoas em todo o Brasil. Além disso, em sua maioria, prestam um grande serviço às suas comunidades ao abrirem suas bibliotecas, galerias de arte e auditórios ao público em geral. Os Centros são também responsáveis pela aplicação de diversos testes de proficiência em língua inglesa. Esses testes (TOELF, TOEIC, Michigan, entre outros) são pré-requisito para que profissionais e estudantes brasileiros façam intercâmbio científico e cultural com os Estados Unidos e outros países.

 

6. Concluindo

Este artigo procurou traçar a história do surgimento dos Centros Binacionais Brasil-Estados Unidos e mostrar a importância dos mesmos para a história do ensino de línguas no Brasil. Procurou-se também compreender como o ensino da língua inglesa se popularizou no Brasil a partir das décadas de 1930 e 1940 com o maior intercâmbio político, econômico e cultural entre Brasil e Estados Unidos.

O ensino da língua inglesa é o objetivo principal dos Centros Binacionais. Há mais de 70 anos, milhares de brasileiros frequentam os Centros espalhados por todo o Brasil. É, portanto, inegável a relevante contribuição que essas instituições têm dado para o ensino e aprendizado do inglês no Brasil.

 

 

Referências

CASIMIRO, Glauce. S. A língua inglesa no Brasil: contribuições para a história das disciplinas escolares. Campo Grande: Ed. Uniderp, 2005.

CHAGAS, Valnir. Didática Especial de Línguas Modernas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957.

INSTITUTO CULTURAL BRASIL NORTE-AMERICANO. Cultural 70 anos. Livro digital comemorativo aos 70 anos do Instituto Cultural Brasil Norte - Americano. Disponível em <http://www.culturanocultural.com.br>. Acesso em: 18 mai. 2010.

MOURA, Gerson. Autonomia na dependência: a política externa brasileira de 1935 a 1942. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

_____________.  Tio Sam chega ao Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986.

_____________.  Estados Unidos e América Latina. São Paulo: Contexto, 1990.

SCHIMDT, Maria J. O ensino científico das línguas modernas. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia, 1935.