Reforma Capanema: Pico na Oferta de Línguas
De acordo com os autores do livro 'Tempos de Capanema', de Simon Schwartzman, Helena Bomeny e Vanda Costa, o sistema educacional deveria corresponder à divisão econômico-social do trabalho. “A educação deveria servir ao desenvolvimento de habilidades e mentalidades de acordo com os diversos papéis atribuídos às diversas classes ou categorias sociais”. Para o Ministro Capanema, a educação deveria estar, antes de tudo, a serviço da nação.
A Lei Orgânica do ensino Secundário institui um primeiro ciclo de quatro anos de duração (ginasial) e um segundo ciclo de três anos (clássico ou o científico). De acordo com Otaíza Romanelli , as finalidades do ensino secundário ficaram assim definidas:
- Formar, em prosseguimento da obra educativa do ensino
primário, a personalidade integral dos adolescentes;
- Acentuar e elevar, na formação espiritual dos adolescentes, a consciência patriótica e a consciência humanística;
- Dar preparação intelectual geral que possa servir de base a estudos mais elevados de formação especial.
No que diz respeito ao ensino de línguas, seguiram-se as normas aprovadas, mas é inegável que a Reforma Capanema apresentou o que de mais avançado havia para o ensino de línguas da época no Brasil, preocupando-se com a questão metodológica, recomendando o uso do 'Método Direto' e enfatizando que o ensino de línguas (principalmente o francês e o inglês) deveria servir não só para objetivos instrumentais, mas também, de acordo com Chagas: 'um ensino pronunciadamente prático'.
A escolha do francês e do inglês, de acordo com o próprio ministro Capanema foi '...devido à importância destes dois idiomas na cultura universal e pelos vínculos de toda a sorte que eles nos prendem...'.
A Reforma no Ensino Secundário referente ao ensino de línguas ficou assim distribuído:
- ao Ginásio incluíram-se como disciplinas obrigatórias, o Latim, o Francês e o Inglês;
- no Colegial o Francês, o Inglês e o Espanhol;
- no Curso Clássico, o Latim e o Grego.
Mudança significativa também aconteceu nas cargas horárias , sendo o latim com oito aulas semanais , o francês com treze, o inglês com doze e o espanhol com duas horas semanais. O grego quase não chegou a ser ensinado devido à pequena demanda .
Podemos considerar, então, que a Reforma Capanema destinou 35 horas semanais ao ensino de idiomas, ou seja, 15 % do currículo.
Apesar de ter objetivos relacionados com o momento histórico em que o país atravessava, a lei mostrava claramente o seu caráter aristocrata e fortemente atado com a velha tradição do ensino secundário.
Constata-se uma grande diferença entre o ensino secundário e outras formas de ensino médio, pois o ensino secundário deveria ser um ensino essencialmente humanístico (de tipo clássico em detrimento da formação mais técnica), com um controle rígido de qualidade e era o único que daria acesso à universidade. O ensino médio seria um ensino de 2ª classe, sem muitas exigências, e tampouco preparação e qualificação de professores, tais como se exigiam para o ensino secundário.
O ensino secundário deveria, na visão do ministro Capanema, estar impregnado de 'práticas educativas' que transmitissem aos alunos uma formação moral e ética, consolidada na crença em Deus, na religião, na família e na pátria.
Outra inovação da reforma foi a obrigatoriedade de freqüência à escola secundária, pretendendo-se acabar definitivamente com o estudo livre.